Fazer refletir no texto o contexto sem, entretanto, usar o pretexto de textualizar sem contextualizar - Laércio Castro

quarta-feira, 23 de março de 2011

Velhos, lindos, mas, sofridos.

Hoje me deparei com uma situação que me fez repensar as  condições de alguns homens e mulheres em minha cidade, Imperatriz do Maranhão.

Um homem empurrando um carrinho, vendendo algumas verduras e frutas. Até aí, nada de estranho, pois, as ruas do Brasil estão cheias de ambulantes que sobrevivem e mantém a família desses recursos.

No entanto, o que me chamou a atenção foi a idade e as condições físicas daquele  brasileiro. Aparentava uns 80 anos, cabelos em paina, corpo franzino e passos lentos, que não conseguiam mais acompanhar a velocidade do tempo, pra ele agora,  marcada em metros por hora, em suas frágeis condições.

Passei por ele de carro, mas, os dois artistas que o viram, pintaram-no  e fixaram no quadro emoldurado da minha mente que ainda, o contempla pelo retrovisor da vida sumindo aos poucos, destacando as cãs daquele pacato cidadão.

Até quando? E por que os nossos velhos não são tratados com dignidade e decência? Quais as virtudes de uma sociedade que não poupa os seus velhos e não lhes dá honra devida? Cabelos que embranqueceram no combate da vida, não merecem no final de sua batalha, descanso?

Entre as várias vozes que se levantaram para relatar as conseqüências da tragédia recente do Japão, onde o terremoto e o tsunami arrasaram várias cidades, uma entrevista me marcou. Uma senhora de origem japonesa, disse que o caos fez renascer algo bom no meio do seu povo. Segundo ela, jovens e adolescentes estavam cuidando dos velhos feridos e traumatizados. Pegavam-nos nas ruas, abrigavam-nos, davam banho neles, tratando-os com carinho, jamais visto antes, nessa nova geração.

Lá ou cá, tudo isso me faz recordar a ilustração daquele homem que separou um quarto para o seu idoso pai morar nos fundos do quintal, por dar muito trabalho dentro de sua casa e incomodar sua esposa e filhos. Tudo do velho era separado, nada se misturava às coisas de sua família. Inclusive, o prato que o velho comia era de madeira, bem como a sua colher. Um belo dia, esse homem que assim tratava o seu velho pai, chegou em casa e viu o seu filhinho com uma faca e um pedaço de pau na mão. O pai, curioso, lhe perguntou o que ele estava fazendo. Ao que o garotinho, prontamente,  respondeu: “Estou preparando o seu prato, papai, pra quando o senhor envelhecer”.

Como estamos tratando os nossos velhos?


 Alguém está preparando os nossos pratos!