Fazer refletir no texto o contexto sem, entretanto, usar o pretexto de textualizar sem contextualizar - Laércio Castro

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A criança jogada no lixo


                                                                           Li, gostei e postei!
         Caçamba onde a pequena Vitória foi encontrada
                  por Andrey, o Catador de latinhas
Uma criança jogada no lixo;  um catador de latinha; uma professora sensível. À criança não lhe competia sequer a vida – o lixo foi seu destino. O catador de latinha, no lixo se encheu de amores. À professora competiu emprestar o colo, esboçar os primeiros carinhos.
A criança está salva.  Na UTI, mas salva. A ironia da vida aprisionou o catador: abandonado pela esposa e filhos, foi posto pra fora de casa e mora na rua. A criança, posta na rua encontrou vários lares querendo lhe abrigar, mas o catador não! A professora chorou de emoção - eu vi na TV, mas a criança não chorou no lixo. Deve tê-lo feito no hospital.
Amanhã a criança vai ter um lar; vai à escola, vai viver. A professora vai se aposentar levando consigo essa ventura, mas o cata dor? Continuará catando latinhas em sua dor? Ou se acostumará catando dor? Será que um dia ele não poderá encontrar no lixo um bilhete da sua filha? Afinal, a rua é seu lugar e o lixo  seu endereço para receber correspondências. Diante dessas ironias da vida, sentimo-nos incomodados com o destino. Pra uns, como a criança, o destino do lixo foi sua salvação; pra outros, detentores do lixo por destino, como se comportarão sem sim e COM TANTO SENÃO? O cata dor tem nome, sobrenome e é maior de idade. A criança não tem nome, nem sobrenome e é menor de idade. A criança sai do lixo para a vida (talvez o luxo) em um lar; o cata dor sai do lar para o lixo sem par.
Quando mais tarde a criança crescer será que saberá de sua história real? Como vai administrar sua vida sabendo que um dia a própria vida a reduziu a um container de lixo? O cata dor não! Ele já sabe da sua saga de “maior de rua”. Certamente não vai querer envelhecer catando latinha no lixo. Este não lhe tirou a sensibilidade, o carinho, a noção de amor... Melhor catar criança? Melhor catar amor? Melhor catar destino?
Quem sabe com esse “currículo” a família não lhe “cata”, não lhe perdoa por prováveis erros, não lhe retoma o afeto que a lata de lixo não conseguiu subtrair dele?
Crônica de Carlos Sena