Veja a transcrição do áudio de uma entrevista que o coordenador geral do Sindicato da Construção Civil de Belém, PA, Ailson Cunha, deu hoje(31) pela manhã, ao Portal ORM
“Ontem nós estivemos o dia todo na reunião do sindicato e nós resolvemos que nós íamos parar com os canteiros de obras porque esse acidente que está comovendo a cidade, aonde veio abaixo o Prédio da Real, com 35 andares, nós achamos que isto é uma política muito nefasta. Isso prova que não está tendo um combate para uma política adequada dentro dos canteiros de obra pra regularizar e parar os acidentes de trabalho. Então nós resolvemos parar os trabalhadores porque hoje nós vamos fazer um dia de luto e vigia da DRT porque nós achamos que a DRT está tendo falhas também, na fiscalização dela. O nosso sindicato é um sindicato limitado, quando a gente vê uma irregularidade nos canteiros de obra a gente não tem condições, a gente não tem poder para embargar uma obra. A gente aciona a DRT, a Delegacia Regional do Trabalho e infelizmente, ela está deixando a desejar. Ela não está fazendo o serviço como deveria. Agora, o que está dando mais angústia, porque desde sábado, nós achamos que o serviço ta lento. Os trabalhadores estão aí soterrados, não estamos vendo nenhuma pressa pra achar os corpos dos companheiros. E essa assembléia de hoje e essa paralisação também. Nós vamos insistir, nós vamos pra 3 de maio, nós vamos chamar o representante do corpo de bombeiros, vamos mostrar que os trabalhadores estão dispostos a entrar naquele entulho, cava até que consiga achar os dois corpos dos companheiros. Mas, essa política é uma que nós acreditamos que hoje, os empresários estão numa porfia, estão querendo que se construa um prédio cada vez mais rápido e botando a vida do trabalhador sempre em segundo plano. Só pra você ter uma idéia, no ano passado nós fechamos, de janeiro a dezembro, mais de 11 companheiros mortos. Nesse mês de janeiro que, segundo informe que já chegou até nós, dois companheiros já perderam a vida. Então, se não tiver uma política adequada os acidentes vão continuar acontecendo e todo ano, pra você ter uma idéia a gente exige dos empresários, na nossa campanha salarial, plano de saúde, mais segurança no local de trabalho e eles têm a coragem de dizer que eles não têm condições porque o que eles ganham não dá e nós sabemos que é mentira. Por exemplo, só esse prédio da Real que veio abaixo, cada apartamento daquele sai em torno de R$500 mil. Então, isso prova de que dinheiros eles têm pra fazerem uma política, mas, não querem. Mas, nós vamos continuar. Essa luta hoje, nós vamos começar e não sabemos se vamos estender pro resto do dia ou da semana, nós vamos decidir na assembléia de hoje, logo mais. Os trabalhadores não agüentam mais o ritmo de trabalho que estão acontecendo aos sábados e domingos, nos canteiros de obra... Nós não tivemos assim, uma denúncia de que aquele prédio poderia vir abaixo. Pra nós foi até uma surpresa. Mas, eu acredito que com certeza, eu não quero afirmar, mas todo mundo vê que, um prédio daquele ter afundado como afundou, não tem outra explicação: fundação mal feita... Porque, ele não tombou nem para a esquerda, nem para direita, ele afundou. Porque afundou? Fundação mal feita, não tem outra explicação. Mas, os laudos vão sair, a perícia vai sair e nós vamos aguardar pra que seja concluído”.
Segundo o Portal ORM, Dois promotores de justiça e policias militares cumpriram na manhã desta segunda-feira (31) um mandato de busca e apreensão de documentos da sede da construtora Real Engenharia, na Travessa Timbó, em Belém. A sede da empresa foi lacrada na noite do domingo (30) e policiais militares permaneceram durante toda a madrugada para evitar que fosse retirado qualquer documento.
Entre os documentos apreendidos estavam notas fiscais referentes a compra de materiais para a obra do edifício que desabou no último sábado (29), na Travessa 3 de Maio. Os policiais e os promotores permaneceram no local por mais de duas horas e ainda encontraram a planta do projeto do prédio e outros documentos da empresa.